sexta-feira, 8 de março de 2013

Marca-passo cerebral é testado para anorexia


Um pequeno grupo de pacientes recebeu, no Canadá, um novo tratamento contra a anorexia nervosa: o implante de um marca-passo cerebral que envia impulsos elétricos a regiões do cérebro responsáveis pelo prazer e pela ansiedade.
Esse tipo de aparelho já é usado, há mais de 20 anos, para controlar tremores em pacientes com parkinson.
As seis voluntárias, com idade entre 24 e 57 anos, tinham a forma crônica da anorexia. Cinco delas já haviam sido internadas em unidades de terapia intensiva e quatro já tinham sido alimentadas por sonda no hospital.
Editoria de arte/Folhapress
Os tratamentos convencionais, com terapia e medicamentos, haviam falhado. "A esperança estava acabando", disse a paciente Kim Rollins, em vídeo divulgado pelos autores do novo estudo.
Controlados por um aparelho emissor de pulsos elétricos implantado perto da clavícula, embaixo da pele --como um marca-passo cardíaco--, os estimuladores foram direcionados a uma região próxima ao corpo caloso.
Segundo a pesquisa, publicada no "Lancet" e liderada por Andres Lozano, da Universidade de Toronto, a estimulação afetou regiões ligadas à ansiedade e ao humor e contribuiu para o controle de sintomas em mais de metade das voluntárias.
As pacientes foram acompanhadas por nove meses. Logo após a cirurgia, todas sofreram perda de peso mas, a partir do terceiro mês, o IMC (índice de massa corporal) médio começou a subir. Esse índice é obtido dividindo o peso, em quilos, pela altura, em metros, ao quadrado.
Três mulheres conseguiram um aumento significativo de peso. Uma delas, que no início do estudo tinha um IMC de 11 (o normal é de 18,5 a 24,9), chegou a 21. Os médicos também observaram melhora dos níveis de ansiedade na maioria delas.
De acordo com o psiquiatra Táki Cordás, coordenador de assistência do Instituto de Psiquiatria do HC de São Paulo, metade das pessoas com anorexia não responde aos tratamentos, que combinam terapia, orientação nutricional e drogas psiquiátricas.
"O paciente acaba sendo o maior inimigo do tratamento. Ele resiste ao ganho de peso, tem fobia disso."
Para Cordás, apesar de experimental e de não excluir o uso dos remédios, a técnica em teste no Canadá merece atenção. "Reduzir a ansiedade faz o paciente ganhar peso mais rápido."
No outro lado dos problemas alimentares, um grupo do HCor (Hospital do Coração), em São Paulo, aguarda autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa para testar o marca-passo cerebral contra a obesidade.
Segundo o neurocirurgião Antonio De Salles, a ideia é aumentar o metabolismo basal. "Seria uma forma de estimular a perda de peso sem os efeitos colaterais da cirurgia bariátrica." Entre os riscos do implante do marca-passo cerebral estão sangramentos e infecções.


DÉBORA MISMETTI
EDITORA INTERINA DE "CIÊNCIA+SAÚDE"

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